segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Capítulo XV - Sobre o Poder Eclesiástico - Institutas (E) Vol 4, pg 105,106

Capítulo XV - Vol 4, pg 105,106

Sobre o Poder Eclesiástico

1. Combate introdutório contra o clero usurpador

[1536] Assim como tudo o que foi dito anteriormente sobre a liberdade cristã pertence ao reino espiritual, igualmente nesta discussão não combatemos a autoridade das leis civis, mas o poder que usurpam os que querem ser vistos como pastores da igreja e, ao contrário, são, verdadeiramente, carrasco cruéis. Porque eles dizem que as leis por eles feitas são espirituais e pertinentes à alma e afirma que são necessárias à vida eterna. Com isso, o reino de Cristo sofre assalto e é violado, e a liberdade por ele dada à consciência dos crentes sofre opressão e é derribada. Por ora eu deixo de falar sobre qual impiedade eles baseiam a observância das suas leis, alegando eles que por esse meio obtemos a remissão dos pecados e a justiça, incluindo nelas a soma total da religião.

Por ora só debaterei o seguinte ponto: não se deve impor necessidade ou obrigatoriedade ás consciências nas coisas das quais elas foram libertadas por Jesus Cristo, recebendo liberdade sem a qual elas não podem estar em paz com Deus, como previamente ensinamos.

2. Reconheçamos um só Rei, Cristo, e uma só lei, a lei da liberdade em Cristo

As consciências cristãs devem reconhecer como Rei um só Cristo, seu Libertados, e que são governadas somente pela lei da liberdade, que é sagrada Palavra do evangelho. Isto se é que desejam manter a graça que uma vez obtiveram em Jesus Cristo. E que elas não se sujeitem a nenhuma servidão, nem se deixem capturar por laço algum.

3. Onde o jugo suave e o fardo leve?

Esses legisladores fazem parecer que as suas constituições são leis de liberdade, jugo suave e fardo leve. Mas quem não vê que são puras mentiras? Quanto a eles próprios, nem sentem o peso da suas leis, visto que, tendo rejeitado totalmente o temor de Deus, com atrevimento desprezam igualmente as suas leis e as de Deus. Mas os que se sentem tocados por algum sentimento de dever quanto à sua salvação, estão muito longe de considerar-se livres, tão presos estão aos seus laços.

4. Que diferença de Paulo!

Vemos quão diligentemente Paulo evitou sobrecarregar as consciências, ao ponto de não ousar prendê-las nem com uma só coisa. E não sem motivo. Certamente ele sabia que é verdadeira praga mortal impor ás consciências a obrigatoriedade das coisas cuja liberdade lhes foi dada por deus. Por outro lado, com dificuldade se poderia contar as numerosas constituições que os que aqui estamos combatendo têm ordenado rigorosamente, sob pena de morte eterna, e às quais eles obrigado têm ordenado rigorosamente, sob pena de morte eterna, e às quais eles obrigam os homens como sendo essenciais à salvação. Entre elas há exigências muito difíceis de cumprir, e, tomadas todas em conjunto, são inexeqüíveis, pelo seu número excessivamente grande. Que é que se pode fazer, então, para que não se sintam premidos de angústia e perplexidade os que se sentem sobrecarregados com tão duto fardo?

Por isso nos cabe concluir brevemente, conforme já ensinamos, que a nossa consciência não deve levada a considerar-se obrigada para com Deus a todas as constituições feitas com o fim de manter presas as almas crentes perante Deus, incluindo uma obrigação, como se ordenassem coisas indispensáveis para a salvação. Ora, são desse jaez todas as constituições hoje chamadas eclesiásticas, as quais eles dizem que são necessárias para que honremos e sirvamos bem a Deus. E como são inumeráveis tais constituições, igualmente inumeráveis são os laços que tendem a manter cativa a nossa alma.

5.Não há então nenhum poder eclesiástico legítimo?

Como, então? Não há nenhum poder eclesiástico? Muitas pessoas simples, que são as que principalmente desejamos ensinar, espantam-se com essa nossa objeção.

Respondemos que na verdade não reconhecemos nenhum poder eclesiástico, a não se que, como diz o apóstolo Paulo [2Co 10 E13], seja dado para edificação, não para destruição. Os que fazem bom uso desse poder não se consideram nada mais do que “ministro de cristo e despenseiros dos mistérios de Deus” [1Co 4.1].

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Autor: João Calvino
Fonte: As Institutas da Religião Cristã, edição especial, ed. Cultura Cristã, Vol 4, pg 105,106.

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