segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Capítulo XII - Sobre a Ceia do Senhor - Institutas (E) Vol 4, pg 5,6

Capítulo XII - Vol 4, pg 5,6

Sobre a Ceia do Senhor

1. Propósito da instituição da Ceia

[1536] O outro sacramento instituído pelo Senhor e por ele dado à igreja cristã é o pão santificado pelo corpo do Senhor Jesus Cristo e o vinho santificado pelo seu sangue, como os antigos costumavam falar. E nós lhe chamados Ceia do Senhor, ou Eucaristia, porque por ele somos alimentados e fortalecidos espiritualmente pela benignidade do Senhor, e, de nossa parte, lhe rendemos graças por sua bênção.

A promessa que aí nos é feia mostra claramente com que fim foi instituído e a que visa, o que se pode expor nestes termos: o sacramento da Ceia nos assegura e confirma que o corpo do Senhor Jesus Cristo foi entregue uma vez por nós de tal maneira que agora é nosso, e o será perpetuamente; e, igualmente, que o seu sangue foi derramado uma vez por nós de tal maneira que será nosso para sempre.

2. Necessidade de contestar os que negam que o sacramento é exercício da fé

É por isso que novamente se refuta até à persuasão o erro daqueles que se atrevem a negar que os sacramentos são uma forma de exercício da fé, dados para mantê-la, elevá-la, fortalecê-la e aumentá-la. Portanto estas são as palavras do Senhor a esse respeito: “Este é o cálice da nova aliança no meu sangue”(Lc 22.20; 1Co 11.25); quer dizer, é um sinal e um testemunho de uma promessa. E onde há promessa, ali a fé tem sobre o que se apoiar e com que se consolar e se fortalecer.

3. Frutos da Ceia

Nossa alma pode obter deste sacramento frutos de grande dulçor e consolação, porque nos apercebemos de que Jesus Cristo está de tal modo incorporado em nós, e nós nele, que tudo o que é dele podemos dizer que é nosso, e tudo o que é nosso, podemos declarar que é dele. Por isso ousamos afirmar com segurança que a vida eterna é nossa e que o reino dos céus não no pode ser retirado, nos mesmos termos em que o próprio Senhor Jesus Cristo não pode ser privado dele. Por outro lado, podemos assegurar que não podemos ser condenados por nossos pecados, não mais que Cristo, porque não são mais nossos, mas dele. Não que seja possível atribuir-lhe alguma culpa, mas sim que ele se constituiu devedor em nosso lugar, e é bom pagador. Esta é a permuta que, em sua bondade infinita, ele quis fazer conosco: recebei nossa pobreza, e nos transferiu suas riquezas; levou sobre si a nossa fraqueza, e nos fortaleceu com o seu poder; assumiu a nossa mortalidade, e fez nossa a sua imortalidade; desce à terra, e abriu o caminho para o céu; fez-Filho do homem, e nos fez filhos de Deus.

Essas coisas são prometidas ta completamente por Deus neste sacramento que devemos estar certos e seguros de que nele são demonstradas tão verdadeiramente que é como se Jesus Cristo mesmo estivesse ali presente pessoalmente, visivelmente, e que o víssemos com os nossos próprios olhos, e tão palpavelmente que é como se o tocássemos com as nossas próprias mãos. Porque esta sua palavra não pode falhar nem mentir: “Tomai, comei; isto é o meu corpo... Bebei dele todos; porque isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados” (Mt 26.26-28; Mc 14.22-24; Lc 22.19,20; 1 Co 11.23-25). Ordenando que o tomemos, ele quer dizer que é o nosso. Ordenando que o comamos e o bebamos, demonstra que ele é feito uma substância conosco. Quando ele diz “Isto é o meu corpo oferecido por vós; este é o meu sangue derramado por vós”, declara e ensina que são mais nossos que dele, porque ele os assumiu e os deixou, não para se favorecer, mas por amor de nós e para nosso proveito.

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Autor: João Calvino
Fonte: As Institutas da Religião Cristã, edição especial, ed. Cultura Cristã, Vol 4, pg 5,6.

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