Capítulo VII - , Vol 3, pg 5-6.
Semelhas e Diferenças entre o Antigo e o Novo Testamento
1. Combate introdutório contra o clero usurpador
[1539] Expus anteriormente, à medida que me foi possível, um resumo da doutrina cristã sobre o conhecimento de Deus e de nós mesmos, pela qual obtemos a salvação. Agora temos necessidade de acrescentar um artigo que é um bom recurso para ajudar-nos a estabelecer a veracidade daquela doutrina que previamente ensinamos. É que todos os homens que desde o princípio de mundo Deus chamou para a companhia do seu povo chegaram a alcançar tal graça mediante essa doutrina e se uniram a Deus pelos seus laços. Bem certo está que os testemunhos que juntamos, tanto da Lei como dos Profetas, para mostrar o que dizíamos, mostram suficientemente que jamais o povo de Deus teve outra regra de santidade e de religião; entretanto, como os doutores freqüentemente fazem longos debates sobre a diferença entre o Antigo e o Novo Testamentos, discussões que poderiam gerar alguma inquietação de consciência, em pessoas simples, parece-me bem fazer um tratado especial para discutir melhor este assunto. Ademais, isso é muito útil e necessário por causa da importunação feita por alguns anabatistas, que consideram o povo de Israel como uma manda de porcos, visto que pensam que o Senhor só o quis engordar na terra, como que numa manjedoura, sem nenhuma esperança da imortalidade celestial. Por isso, a fim de tirar todos os fiéis desse erro pestilente e igualmente livrar as pessoas simples de todas as dificuldades introduzidas em sua mente quando se faz menção de alguma diversidade entre o Antigo e o Novo Testamentos, consideremos resumidamente o que tem de semelhante ou de diferente a aliança que o Senhor fez com o povo de Israel antes do advento de Cristo, e a que ele fez conosco, depois que se manifestou em carne.
Ora, ambos os aspectos podem ser resolvidos com uma palavra: é que a aliança feita com os pais antigos, em sua substância e em sua verdade é tão semelhante à nossa que se pode dizer que ambas são somente uma; só existe diferença na ordem da dispensação de cada uma delas. As, visto que com tal brevidade ao falar deste assunto ninguém poderia entendê-lo bem, é necessário dar-lhe seqüência mais ampla, se é que desejamos ter algum proveito. Ao explicar a sua semelhança, ou melhor, a sua unidade, seria supérfluo tratar novamente de todas as extensas partes que já definimos. Restrinjamos-nos aqui a três artigos.
1. Três artigos sobre a unidade existente entre o Antigo e Novo Testamento
Primeiro, o Senhor não propôs aos judeus uma felicidade ou opulência terrena como uma meta à qual eles devessem aspirar, mas os adotou com vistas à esperança da imortalidade, e lhe revelou e testificou essa adoção, tanto por visões como em sua Lei e em seus Profetas.
Segundo, a aliança pela qual eles foram ligados a Deus não se fundou nos méritos deles, mas unicamente na misericórdia de Deus.
Terceiro, eles tinham e reconheciam Cristo como o seu Mediador, pelo qual estavam unidos a Deus e foram feitos participantes das suas promessas.
O segundo ponto nos deve ser notório que provamos claramente, com muitos testemunhos dos profetas, segundo os quais todo o bem que o Senhor fez ou prometeu a seu povo proveio de seu pura bondade e clemência. O terceiro também já demonstramos aqui e ali com a com facilidade; mesmo no primeiro tocamos um pouco, de passagem. Mas, como este foi mais ligeiramente que outros, e é o que tem sofrido mais debates e controvérsias, devemos explicá-lo mas diligentemente. Mas precisamos deter-nos aí de tal maneira que, se faltar alguma coisa à correta exposição dos outros pontos, os resolvamos sucintamente.
Aqui são apenas as duas primeiras páginas do capítulo VII da Institutas – Edição especial. Calvino continua a desenvolver este três pontos dobre as diferença entre o AT e NT maravilhosamente nas páginas seguintes. Compre este maravilhoso livro em http://www.cep.org.br de seqüência a leitura.
Autor: João Calvino
Fonte: As Institutas da Religião Cristã, edição especial, ed. Cultura Cristã, Vol 3, pg 5-6.
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