terça-feira, 7 de agosto de 2007

Capítulo IV - A Fé, ou Explicação do Credo dos Apóstolos - pg 5-8 da Institutas (E) Vol2

Capítulo IV - pg 5-8

A Fé, ou Explicação do Credo dos Apóstolos
¹

[1536] Agora é fácil entender, graças ao que foi tratado no livro anterior, quais deveres o Senhor exige de nós em sua lei. Lembremo-nos de que, se falharmos no menor ponto, ele manifestará a sua ira e o seu terrível juízo, condenando-nos à morte eterna. Além disso, ele declarou que, não somente é difícil aos homens o cumprimento da lei, mas também que essa é uma coisa que está acima das suas forças. Porque, se levarmos em conta somente a nós mesmos, considerando o que merecemos, não nos restará sequer uma gota de boa esperança, mas, sim, um desespero mortal, uma vez que somos totalmente rejeitados por Deus.

Mas depois ficou demonstrado que existe um meio, um só, de evitar essa calamidade, a saber, a misericórdia de Deus, contanto que a recebamos com uma fé segura e firme e que nela descansemos com inabalável esperança.

1. A natureza e o fim da fé

[1539] Cabe-nos agora explicar como deve ser essa fé, por meio da qual todos quantos o Senhor escolheu para serem seus filhos entram na posse do reino celestial. É sabido e notório que nenhuma opinião ou persuasão, que não proceda de Deus, seria suficiente para gerar tão grandioso bem. É necessário que nos dediquemos com o mais diligente empenho a procurar conhecer a verdadeira natureza de fé, pois vemos hoje em dia quão perniciosa é a ignorância generalizada sobre este assunto. Porque, em sua grande maioria, os homens entendem que a fé é uma simples e comum credulidade, com a qual eles dão assentimento, ou seja, mostram uma aceitação superficial da narrativa do evangelho. Esse mal, como tantos outros numerosos males, deve ser atribuído aos sofistas e a certos mestres da Sorbonne. Esses tais, além de diminuírem o valor da fé pela obscura e sombria definição que dela fazem, arranjando uma frívola distinção entre a fé formada e a fé informe, atribuem o título de fé a uma opinião vã e vazia do temor de Deus de toda piedade. Toda a Escritura contradiz esse fátuo conceito.

2. Impugnação da falsa definição, com base na natureza da fé

Disponho-me a impugnar a definição deles declarando simplesmente a natureza da fé como demonstrada pela Palavra do Senhor, pela qual se vê claramente como eles falar e falaram sobre isso, mas de maneira confusa e sem espírito. A distinção que eles fazem não vale uma pitanga! Porque, embora concedamos, para fins didáticos, que existem duas espécies de fé, quando queremos mostra que tipo de conhecimento de Deus é o dos ímpios, todavia reconhecemos e confessamos com o apóstolo Paulo que os ilhós de Deus só têm uma fé.

É verdade que [1536] muitos crêem que só existe um Deus e que o conteúdo do Evangelho e da Escritura é verdadeiro. Mas crêem nisso baseados no mesmo critério com que estão habituados a julgar como sendo verdade o que se lê nas histórias e o que os olhos vêem.

[1539]Há outros que vão além, pois têm a Palavra de Deus como um oráculo indubitável, não menosprezam nenhum dos mandamentos, e de algum modo são sensibilizados pelas promessas. Dizemos que as pessoas desse tipo não estão sem fé; mas falam de maneira imprópria, porque não impugnam com manifesta impiedade a Palavra de Deus, e não rejeitam nem a desprezam, mas têm alguma aparência de obediência.

[1536] Todavia, como essa sombra ou imagem de fé é nula e não tem nenhuma importância, tampouco merece o nome de fé.

[1539] E embora logo vejamos mais amplamente quanto esse tipo de fé difere da verdadeira, não fará mal fazemos um breve demonstração.

3. Simão, o mágico, e os tipos de terreno improdutivo

Diz a Escritura que Simão, o mágico, creu [At 8.13], ma ele manifesta pouco depois a sua incredulidade. Não entendemos, com alguns, que esse testemunho de fé é só de palavras, dé fingida, sem nada no coração. Entendemos, antes, que, cativada pela majestade divina, a pessoa ajusta esse tipo de fé, de modo que, reconhecendo Cristo como o autor da vida e da salvação, de voa vontade o aceita como tal.

Nesse sentido, o Senhor diz, em Lucas, capítulo 8 (Lc 8.13), que os que “crêem apenas por algum tempo” são aqueles nos quais a semente da palavra é sufocada e os frutos não vingam, ou seca-se a tenra planta e se perde, sem fincar raiz. Não temos dúvida de que eles sentem gosto pela palavra, recebem-na de boa vontade e são abalados pelo seu poder, ao ponto de, em sal hipocrisia, enganarem não somente os homens, mas também o seu próprio coração. Porque eles se persuadem de que a sua reverência apara com a palavra de Deus é a piedade mais verdadeira que eles podem ter. Isso porque só vêem impiedade quando a palavra é manifestamente vituperada ou menosprezada.

Pos bem, seja o que for essa forma de receber o evangelho, este não penetra o coração para ali se fixar. E, embora às vezes pareça fincar raízes, não obstante estas não são vivas. Assim é o coração humano, cheio de vaidade, com os mais diversos esconderijos de mentiras! Acha-se envolto em tanta hipocrisia que se engana a si mesmo. [1536] Mas, tomara aqueles que se gloria em tal simulacro da fé entendam que em nada são superiores ao Diabo neste aspecto (Tg 2.19).

[1539] Certamente, os primeiros dos quais falamos são muito inferiores, visto permanecem desatentos, apesar de ouvirem coisas que fazem tremer os demônios. Nisto os outros são parecidos, pos o sentimento que eles têm acabam finalmente em terror e angústia

4. A verdadeira fé cristã²

Diferentemente, a verdadeira fé cristã, a única que de fato merece ser chamada fé, não se satisfaz com um simples conhecimento da história, e se estabelece no coração do homem, limpando-o do corante, da ficção e da hipocrisia que o cobriam, e ocupando-o de tal maneira que não há o que desaparecer levianamente.

Primeiro, para podermos entender a sua força e a sua propriedade, é preciso que tenhamos o cuidado de recorrer à Palavra de Deus, com a qual ela tem tal afinidade e correlação que não poderá ser bem avaliada fora dela. [1536] Porque a palavra é como se objeto e sua meta, pelo que a fé deve estar perpetuamente atenta incerta e um erro flutuante. [1536] A mesma Palavra é também o fundamento em que a fé se sustém e se apóia, e, se for retirada desse fundamento, imediatamente cai. [1539] Se a Palavra for retida, não restará fé.

Nota:
¹ Leia o credo apostólico em
http://www.teuministerio.com.br/BRSPIGBSDCMCMC/vsItemDisplay.dsp&objectID=CF641E62-F9AD-48C0-9E4755448BDD87AB&method=display
² “[Fé] É um conhecimento firme e certo da vontade de Deus concernente a nós, fundamento sobre a verdade da promessa gratuita feita em Jesus Cristo, revelada ao nosso entendimento e selada em nosso coração pelo Espírito Santo.” (As Instituas, III 2.7)

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Autor: João Calvino
Fonte: As Institutas da Religião Cristã, edição especial, ed. Cultura Cristã, Vol 2, pg 5-8.

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